Nesse tempo também tinha tanto
medo
que, embora não chorasse, era como
se chorasse.
Não sabia o que fazer com esse
medo, apenas sofrê-lo
como uma paixão, na casa infinita,
na casa abandonada,
na casa onde os nossos quartos eram
clareiras no meio do pó,
pois tinha medo que toda a dor me
invadisse como a água
das barragens quando se abrem as
comportas,
medo de não conseguir sequer respirar,
nesse turbilhão,
e um medo absurdo de todas as
coisas que se arruinavam,
dos vidros que se partiam, dos
degraus que desapareciam,
dos buracos nas tábuas e das telhas
que voavam,
e nessa altura era tão intenso esse
medo de sentir
o que quer que fosse que estivesse
dentro de mim
que cheguei a pensar, confesso, que
ainda o melhor
seria a própria morte, quem sabe,
transformar-me em jardim.