XVI


Nesse tempo também tinha tanto medo

que, embora não chorasse, era como se chorasse.

Não sabia o que fazer com esse medo, apenas sofrê-lo

como uma paixão, na casa infinita, na casa abandonada,

na casa onde os nossos quartos eram clareiras no meio do pó,

pois tinha medo que toda a dor me invadisse como a água

das barragens quando se abrem as comportas,

medo de não conseguir sequer respirar, nesse turbilhão,

e um medo absurdo de todas as coisas que se arruinavam,

dos vidros que se partiam, dos degraus que desapareciam,

dos buracos nas tábuas e das telhas que voavam,

e nessa altura era tão intenso esse medo de sentir

o que quer que fosse que estivesse dentro de mim

que cheguei a pensar, confesso, que ainda o melhor

seria a própria morte, quem sabe,

transformar-me em jardim.