XXXIX


Deus cuja bondade não consigo compreender,

porque os meus olhos nunca vêem a totalidade das coisas,

nem a vida depois da morte, nem a consolação do mártir,

e muito menos o tempo inteiro que ao drama restitui o seu sentido;

Deus cuja justiça não consigo julgar,

porque o sofrimento desta vida no mundo, não posso compreendê-lo,

e porque o meu julgamento, passo uma vida a revê-lo,

pois trata-se de uma coisa imperfeita;

Deus para quem uma certa inteligência

não passa de um estreito corredor,

para ti que não tens limites, criação, vida infinita infindável,

vida indizível, vida incontida, vida imprevista,

vida excessiva e no seu limite impensável,

enquanto eu nem sequer entendo

como é que a mais pequena das ervas

nasce e morre;

Deus, não me abandones,

mas mostra-te comigo em ti e não deixes de saber

quantos cabelos estão na minha cabeça.

Eu que fui tanto tempo a figueira sem fruto,

porque olhava e não via, tinha cabeça e não pensava,

ouvia sem compreender e o meu coração é que chorava,

Deus, não me abandones, mas protege-me

- para sempre - com o teu poder infinito.