Deus cuja bondade não consigo
compreender,
porque os meus olhos nunca vêem a
totalidade das coisas,
nem a vida depois da morte,
nem a consolação do mártir,
e muito menos o tempo inteiro que
ao drama restitui o seu sentido;
Deus cuja justiça não consigo
julgar,
porque o sofrimento desta vida no
mundo, não posso compreendê-lo,
e porque o meu julgamento, passo
uma vida a revê-lo,
pois trata-se de uma coisa
imperfeita;
Deus para quem uma certa
inteligência
não passa de um estreito corredor,
para ti que não tens limites,
criação, vida infinita infindável,
vida indizível, vida incontida,
vida imprevista,
vida excessiva e no seu limite
impensável,
enquanto eu nem sequer entendo
como é que a mais pequena das ervas
nasce e morre;
Deus, não me abandones,
mas mostra-te comigo em ti e não
deixes de saber
quantos cabelos estão na minha
cabeça.
Eu que fui tanto tempo a figueira sem
fruto,
porque olhava e não via, tinha
cabeça e não pensava,
ouvia sem compreender e o meu
coração é que chorava,
Deus, não me abandones, mas
protege-me
- para sempre - com o teu poder
infinito.