XLII


É por tudo isto verdade

que estes limites não permitem

que te possa pedir muito,

mas apenas que venhas

como um amável carpinteiro

e com esse estranho amor

que aplaines esta madeira,

esta tábua caprichosa

que parece ser o meu espírito

até que ela fique tão lisa

que então te possas inscrever.

Dá-me força para viver esta vida,

esta vida e não outra, tal como é,

vida incompreensível, vida desconcertante,

vida por vezes tão difícil

que mais parece

uma série bem organizada de provas,

como num curso cuja finalidade

claramente não alcançamos

e que um dia esta imagem seja verdade,

esta imagem, porque as minhas palavras

não alcançam mais:

que um dia eu atravesse a minha morte

como se fosse possível seguir

por essa desconhecida via luminosa

sempre sempre sempre

de mãos dadas contigo,

Deus presente e desconhecido,

mais fino ainda que o ar,

mais imperceptível que os átomos,

tão extenso como os cosmos infinitos

e como a matéria de todos os corpos:

ó Deus do meu desejo eterno

e que é apenas eterno

porque está fora do tempo,

não tem princípio nem fim,

este desejo, não começou nem acabou

mas tu sabes que está num outro plano,
 
como a infância.