Foi preciso que a morte me tocasse
para que então começasse a aprender,
por um estranho amor a esta vida,
um pouco do significado
do sentimento de humildade.
Foi preciso descer muito fundo
nesse plano gelado do desespero,
nessa solidão insondável,
para que pudesse retirar
desta existência
alguma espécie de evidência.
Foi preciso ficar arrasada
durante muitas, muitas horas,
e pela tua compaixão,
que não me deixaste morrer,
regressar dolorosamente à luz,
para perceber que a maior dor
é lutar contra ti
e não deixar a vida fluir.
E foi preciso que isto se repetisse
muitas, muitas vezes,
para conseguir perceber
que sozinha não era nada
e que só contigo,
contigo, por ti e em ti,
podia viver.