XIX

 

Foi preciso que a morte me tocasse
 
 
para que então começasse a aprender,
 
 
por um estranho amor a esta vida,
 
 
um pouco do significado
 
 
do sentimento de humildade.
 
 
Foi preciso descer muito fundo
 
 
nesse plano gelado do desespero,
 
 
nessa solidão insondável,
 
 
para que pudesse retirar
 
 
desta existência
 
 
alguma espécie de evidência.
 
 
Foi preciso ficar arrasada
 
 
durante muitas, muitas horas,
 
 
e pela tua compaixão,
 
 
que não me deixaste morrer,
 
 
regressar dolorosamente à luz,
 
 
para perceber que a maior dor
 
 
é lutar contra ti
 
 
e não deixar a vida fluir.
 
 
E foi preciso que isto se repetisse
 
 
muitas, muitas vezes,
 
 
para conseguir perceber
 
 
que sozinha não era nada
 
 
e que só contigo,
 
 
contigo, por ti e em ti,
 
 
podia viver.