Porque há uma coisa em mim
que sabe exactamente
o que é ser pássaro
e voar, e voa com ele
quando o vê, tão livre
e tão leve, no azul brilhante
do céu que os dois envolve.
Ele flui com as asas abertas
em linhas invisíveis
de tensão e suspensão
e qualquer coisa em mim
sabe exactamente,
sem saber como,
o que é ganhar balanço
nesse rápido bater de asas,
nesse vivo impulso,
e depois deixar-se fluir
numa linha contínua,
que é por si própria,
na sua leveza absoluta,
uma espécie de infinito,
talvez uma inclassificável
participação de outra esfera,
como qualquer coisa
que está à beira de outra,
uma praia, ou uma franja,
voando no vento,
e a verdade, a verdade
é que essa coisa em mim
sabe perfeitamente e sem
qualquer espécie de dúvida
a precisa e peculiar diferença
que existe entre a intensidade
do batimento rítmico
com que o pássaro
se eleva nos ares,
em súbito esforço,
e essa tensão suave,
esse contínuo sensual
e diria: realmente infinito -
que é estar suspensa
numa linha de absoluta fluição.
Em sonhos verdadeiros,
enquanto durmo, no meu sono
também já aconteceu
que as pontas dos meus pés
se separassem
do chão e eu também
voei e sei o que isso é,
sem saber como
nem porquê.