IX


Porque esse notável tormento, essa dor de existir e de pensar como quem cai,

esse desespero de não encontrar no grito a dimensão necessária,

ou na vida a velocidade suficiente, e mesmo essa pressa excessiva

e quase urgente de morrer, a violência da paixão que já não podia

senão destruir, tudo isso, um dia, disse a mim própria, determinada,

que havia de conduzir, reduzir, condensar, fazer refluir,

com nova disciplina e discreta, implacável, mas suave

austeridade, a uma particular delicadeza atómica, infinitesimal,

e depois ao fio de ouro que seria da espessura de um cabelo,

esse fio discreto que quase imperceptivelmente circula

na luz de um tecido brocado, minha mortalha,

meu cadeado, veste hierática, minha roupa pintada,

tecido real de que o pintor fez quadro, impensável

capricho de um bordado, verso que hás-de ser corpo, vai,

mostra tu como se faz de excesso e violência a tranquila grandeza

do templo em ruínas, com suas brancas colunas e imóvel frontão,

pedra sobre pedra, essas pedras cortadas, do solo arrancadas,

por mãos carregadas, pedras que como gritos do deserto emergem,

gritos mudos, gritos imóveis, gritos parados,

gritos como poemas - ou gritos como quadros.