VII


No fim da alameda de ciprestes que se estende,

com suas areias brancas, ao longo dos campos cultivados,

no fim da alameda de ciprestes ergue-se o terraço

em tijoleira muito gasta que está defronte da sala principal,

esta sala onde Maria do Mar dispôs a mesa antiga

e onde se agitam, nas altas paredes, os frescos debotados

que terão sido a glória de outros tempos, mas que agora,

como um puzzle, é preciso completar com certa imaginação

por causa dos lugares em que as cores se apagaram.

Logo no início, perto das altas janelas que dão para o terraço,

ergue-se uma pequena árvore e à sua sombra,

encostadas uma à outra, em afável intimidade,

duas raparigas sorriem e conversam, entre o rosa e o azul

dos seus delicados vestidos. Ficamos por ali, olhando

e continuando em pensamento essa imaginária conversa

que decerto é sobre os rapazes que adiante, no meio de um lago,

remam num pequeno barco, parecendo muito alegres.

Já na outra parede, quebrada por duas altas portas duplas,

com suas velhas bandeiras envidraçadas, mas já

sem os vidros, surge a clara imagem da mesa do piquenique,

com flores espalhadas sobre a toalha, entre o pão

e os jarros abaulados e as diversas frutas, ainda apelativas

nas suas cores incompletas e debotadas.

Atrás uma camponesa avança, camisa em desalinho,

saia muito larga coberta com um branco avental

e um cesto sobre a cabeça, absorvida no destino

de uma séria tarefa, para nós desconhecida,

talvez colocar qualquer coisa em cima da mesa branca,

pedaços de pão ou cachos de uvas, não sabemos.

Rodando suavemente o pescoço e girando sobre o corpo,

depois da segunda porta, na terceira parede,

aí podemos ver, no outro extremo da sala,

no meio de um grande espaço em que o estuque caiu,

levando consigo as alegres imagens, entre duas silvas

repletas de amoras, podemos ver um grupo de três crianças

muito entretidas e que brincam, mas enquanto uma delas,

absorvida no seu pião, se volta para nós, distraída,

as outras duas, bem agachadas em torno do seu jogo invisível

estão de costas para nós, com seus rostos bem escondidos,

e despertam na nossa imaginação, surpreendentemente,

toda a infância, essa infância do tempo infinito,

da confiante tranquilidade e dos gestos intermináveis,

essa infância de uma outra paz, de uma outra vida,

e que se desenrolava em perfeita segurança,

na transparente alegria de existir

e num outro tempo sem tempo.