II


Porque o corpo que tu tocas, vida, este corpo intensivo

que como um cabo de aço se suspende, tenso e leve,

entre dois mastros, o corpo que tu tocas

parece uma sinfonia, parece um coral, parece a onda

que levemente desliza em suave e tensa vibração

e como poeira ou espuma transparente

se dissipa. Assim se sobrepõe o deslizamento

em planos repentinos e extensões suaves, e o prazer

sucede-se nos golpes súbitos que o desfazem, ao corpo,

tal como a música se faz e desfaz, tal como o sopro

que sempre recomeça e logo se extingue, neste abraço,

e assim divago e deslizo, nesta paisagem, como no mundo,

como num quadro, e neste silêncio, como numa peça de Ravel.