Porque o corpo que tu tocas, vida, este corpo intensivo
que como um cabo de aço se suspende, tenso e leve,
entre dois mastros, o corpo que tu tocas
parece uma sinfonia, parece um coral, parece a onda
que levemente desliza em suave e tensa vibração
e como poeira ou espuma transparente
se dissipa. Assim se sobrepõe o deslizamento
em planos repentinos e extensões suaves, e o prazer
sucede-se nos golpes súbitos que o desfazem, ao corpo,
tal como a música se faz e desfaz, tal como o sopro
que sempre recomeça e logo se extingue, neste abraço,
e assim divago e deslizo, nesta paisagem, como no mundo,
como num quadro, e neste silêncio, como numa peça de Ravel.