I

 
Vida que vejo como linha invisível que traça no céu a ave veloz,

voando em pura e altiva liberdade, no ar suspensa,
 
e que vejo como movimento infinito de mil seres,
 
cada um em seus vários momentos de glória, entre o nascimento e a morte,
 
coroa de luz, périplo de um sopro que respira,
 
tu és o esplendor vivo de todas as coisas mudas que cantam,
 
porque a tua presença é um hino.
 
E são as flores que se erguem intocáveis nos campos,
 
e que o vento raras vezes desequilibra,
 
são as árvores de ramos esticados em direcção ao infinito,
 
com as folhas penduradas sob o abismo das galáxias,
 
são as crianças acabadas de nascer, que as mãos recebem,
 
despidas e sem palavras, e que gritam,
 
e os animais mudos que a natureza abriga, e os caminhos entre as terras,
 
são as pedras silenciosas que nas encostas dos montes se amontoam
 
em discreta harmonia,
 
são estes mudos que não falam quem canta mais alto em tua glória
 
e o silêncio das paisagens quase ensurdece, vida espantosa,
 
pela intensidade inominável
 
com que te celebra.