XXXIII


De Deus não sei nada

a não ser as árvores

que se levantam desta terra

contra o fundo branco e azul

que os meus olhos fazem

do espaço celeste.
 

De Deus... de Deus afinal

não sei mesmo nada

a não ser esta vida

e na minha imaginação

as esferas gigantes

que no espaço imenso -

suspensas

e numa incrível suavidade

dançam, como se cantassem.
 

E é por isto que só posso

dirigir-me a ti com palavras

que me sejam acessíveis,

porque eu não «sei»

uma árvore, nem sequer

«sei» uma vida,

e é um discurso infantil,

este, com que te falo,

mas são as coisas que entendo.
 

É certo quando falo

do teu amor

que não sei precisamente

do que falo.


E mesmo quando falo

da tua compaixão

é certo que sei só

o que sinto na pele,

no coração, este,

por isso, olha

para estas palavras

como quem vê flores

espalhadas em campos,

olha para elas

como quem vê frutos

pendurados em ramos,

e não deixes de as ver

como coisas tuas.
 

São só imperfeitas

quando comparadas

com o sonho do que eu

desejaria alcançar,

são apenas imperfeitas

quando esgrimidas

pela minha cabeça.
 

Aceita-as, pois,

como se fossem apenas

uma parte dessa outra

sinfonia dos gestos,

os gestos mais simples,

os mais repetidos,

esses gestos

que compomos

ao longo do dia,

como quem compõe

uma acção de graças,

aceita-as apenas

como uma parte

dessa outra

coreografia,

Deus.