XXX


A araucária, esta estranha árvore tão geométrica,

até poderia parecer um cone, se não quisesse observá-la

e decidisse passar por ela, distraidamente, como se não a visse.

O seu tronco muito direito lança-se no céu como uma linha,

quase irreal, e depois, nesse florescimento radial

em forma de estrela, divide-se e torna a dividir-se

em ramos e em sub-ramos, como um fractal.

Diante dela, parada, vejo porém como transgride,

nesse florescimento livre, o outro cone imaginário,

o da minha imaginação, porque os seu ramos crescem,

subtis e irregulares, com uma estranha fantasia alucinante

que ao mesmo tempo me atrai e confronta,

com uma curiosa forma de dor.

Sempre me fascinaram e ao mesmo tempo repeliram

esta espécie de árvores, sem que nunca percebesse porquê.

Sempre considerei que amava mais essoutra sensualidade

dos ciprestes, dos pinheiros, dos plátanos, das oliveiras,

dos eucaliptos. Mas dou por mim a pensar, a propósito

da forma como crescem os ramos da aurocária,

como ela é tão parecida afinal

com essa viva irregularidade das outras árvores

que não têm, como é evidente, copas

perfeitamente circulares, e dou por mim a pensar,

a propósito das linhas desse cone imaginário

que a árvore não cumpre, como também esta vida,

afinal, é mais surpreendente, mais empolgante,

mais cómica, mais trágica e mais divertida

do que qualquer coisa que pudesse alguma vez

ter imaginado, sozinha, eu mais a minha cabeça.

Estranha, nova e alegre consciência,

esta que faz da vida uma desconhecida

e fascinante aventura imprevisível,

porque afinal nunca saberei, da vida,

como dirá o seu excesso.