A araucária, esta estranha árvore
tão geométrica,
até poderia parecer um cone, se não
quisesse observá-la
e decidisse passar por ela,
distraidamente, como se não a visse.
O seu tronco muito direito lança-se
no céu como uma linha,
quase irreal, e depois, nesse
florescimento radial
em forma de estrela, divide-se e
torna a dividir-se
em ramos e em sub-ramos, como um
fractal.
Diante dela, parada, vejo porém como
transgride,
nesse florescimento livre, o outro
cone imaginário,
o da minha imaginação, porque os
seu ramos crescem,
subtis e irregulares, com uma
estranha fantasia alucinante
que ao mesmo tempo me atrai e
confronta,
com uma curiosa forma de dor.
Sempre me fascinaram e ao mesmo
tempo repeliram
esta espécie de árvores, sem que
nunca percebesse porquê.
Sempre considerei que amava mais
essoutra sensualidade
dos ciprestes, dos pinheiros, dos
plátanos, das oliveiras,
dos eucaliptos. Mas dou por mim a
pensar, a propósito
da forma como crescem os ramos da
aurocária,
como ela é tão parecida afinal
com essa viva irregularidade das
outras árvores
que não têm, como é evidente, copas
perfeitamente circulares, e dou por
mim a pensar,
a propósito das linhas desse cone
imaginário
que a árvore não cumpre, como
também esta vida,
afinal, é mais surpreendente, mais
empolgante,
mais cómica, mais trágica e mais
divertida
do que qualquer coisa que pudesse
alguma vez
ter imaginado, sozinha, eu mais a
minha cabeça.
Estranha, nova e alegre
consciência,
esta que faz da vida uma
desconhecida
e fascinante aventura imprevisível,
porque afinal nunca saberei, da
vida,
como dirá o seu excesso.