De Deus não sei nada
a não ser as árvores
que se levantam desta terra
contra o fundo branco e azul
que os meus olhos fazem
do espaço celeste.
De Deus... de Deus afinal
não sei mesmo nada
a não ser esta vida
e na minha imaginação
as esferas gigantes
que no espaço imenso -
suspensas
e numa incrível suavidade
dançam, como se cantassem.
E é por isto que só posso
dirigir-me a ti com palavras
que me sejam acessíveis,
porque eu não «sei»
uma árvore, nem sequer
«sei» uma vida,
e é um discurso infantil,
este, com que te falo,
mas são as coisas que entendo.
É certo quando falo
do teu amor
que não sei precisamente
do que falo.
E mesmo quando falo
da tua compaixão
E mesmo quando falo
da tua compaixão
é certo que sei só
o que sinto na pele,
o que sinto na pele,
no coração, este,
por isso, olha
para estas palavras
como quem vê flores
espalhadas em campos,
olha para elas
como quem vê frutos
pendurados em ramos,
e não deixes de as ver
como coisas tuas.
São só imperfeitas
quando comparadas
com o sonho do que eu
desejaria alcançar,
são apenas imperfeitas
quando esgrimidas
pela minha cabeça.
Aceita-as, pois,
como se fossem apenas
uma parte dessa outra
sinfonia dos gestos,
os gestos mais simples,
os mais repetidos,
esses gestos
que compomos
ao longo do dia,
como quem compõe
uma acção de graças,
aceita-as apenas
como uma parte
dessa outra
coreografia,
Deus.