XXXV


É verdade que a partir daí passei a olhar para as árvores

como exemplos dos quais podia retirar uma lição,

ou uma inspiração. Plátanos, ciprestes, oliveiras,

pinheiros, aurocárias, choupos, cedros, eucaliptos...

Contemplei-os durante horas infinitas,

como coisas de Deus, coisas que talvez pudesse imitar.

Será que existe alguma forma de vida mais pacífica do que essa,

a da natureza que tão suave e imperceptível floresce?

Elas nem sequer perturbam coisa nenhuma,

quanto mais diminuem ou causam dano a algum ser vivo.

Erguem-se no ar enquanto o tronco e as raízes as sustentam

e são exactamente como um hino, uma acção de graças.

Expandem-se em ramos, folhas e frutos e fluem

silenciosas e discretas com as estações,

como se dançassem, e às vezes fazem flores

e dão frutos coloridos que são deliciosos e doces.

Nós os homens plantamo-las nas margens das ruas

para que nos façam companhia e as cidades

não se transformem em labirintos opressivos de betão,

por isso, pergunto, como pode um simples ser humano

ser assim tão generoso e tão bom?